domingo, 1 de janeiro de 2012

Reafirmamos os nossos sonhos: Bem-vindo 2012!


O mundo já não se encontrará em guerra contra os pobres, mas sim contra a
pobreza, e a indústria militar não terá outro caminho senão declarar a
falência. A comida não será uma mercadoria, nem a comunicação um negócio,
porque a comida e a comunicação são direitos humanos. Ninguém morrerá de
fome porque ninguém morrerá de indigestão. As crianças de rua não serão
tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua. Os meninos
ricos não serão tratadas como se fossem dinheiro porque não existirão
meninos ricos. A educação não será um privilégio apenas de quem possa
pagá-la. A polícia não será a maldição daqueles que não podem comprá-la. A
justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viverem separadas,
voltarão a juntar-se, bem unidas ombro com ombro. Uma mulher, negra, será
presidente do Brasil e outra mulher, negra também, será presidente dos
Estados Unidos da América; uma mulher índia governará a Guatemala, e outra o
Peru. Na Argentina, as mães da Praça de Maio serão um exemplo de saúde
mental, porque se negaram a esquecer em tempos de amnésia obrigatória. A
Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés, e o sexto
mandamento mandará festejar o corpo. A Igreja ditará também outro mandamento
que havia sido esquecido: "Amarás a natureza, da qual fazes parte". E serão
reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma.

Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles
são aqueles que desesperaram de tanto esperar e os que se perderam de tanto
procurar. Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham
desejo de justiça e desejo de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e
tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem as fronteiras do mapa e
do tempo. A perfeição continuará a ser o aborrecido privilégio dos deuses,
mas, neste mundo imperfeito e exaltante, cada noite será vivida como se
fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro.


Eduardo Galeano em “O direito ao delírio”